quinta-feira, 8 de março de 2007

[...CAMILO PESSANHA...]
















Quem poluiu, quem rasgou os meu lençóis de linho,
Onde esperei morrer - meus tão castos lençóis?
Do meu jardim exíguo os altos girassóis
Quem foi que os arrancou e lançou no caminho?

Quem quebrou (que furor cruel e semiesco!)
A mesa de eu cear - tabua tosca de pinho?
E me espalhou a lenha? E me entornou o vinho?
- Da minha vinha o vinho acidulado e fresco...

Ó minha pobre mãe!... Nem te ergas mais da cova.
Olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa nova...
Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve.

Não venhas mais ao lar. Não vagabundes mais,
Alma da minha mãe... Não andes mais à neve,
De noite a mendigar às portas dos casais.

Camilo Pessanha (1867-1926)

1 comentário:

Cinza disse...

o grande "pai" do modernismo como alguém lhe viria a chamar... Quanto sentimento puro e sofrido nesses lençóis poluídos...